por Arichon Gomes.
Jornalista, escritor e poeta.
Artista plástico e músico.
Amante das boas conversas.
Quando a indignação tem lado.
Estamos testemunhando nos últimos anos um movimento social e dependendo de que lado ocorra, a indignação pode ou não surgir. Não é o fato que provoca a comoção, mas com quem acontece e a qual lado pertence.
A hipocrisia tem sido o tom dos debates e de seus debatedores. Se um negro é morto a “indignação” depende de dois fatores: o primeiro é de qual categoria ou grupo social pertence. Se for policial a comoção é praticamente zero. Fica restrita apenas a família e se muito a alguns amigos próximos. O segundo grupo é a qual espectro ideológico pertence.
Nos ditos veículos da “velha mídia”, “vidas negras” importam desde que esta faça parte do “clube”. A comoção é seletiva e principalmente deve proporcionar um palanque ou ao menos uma manchete com conteúdo desonesto intelectualmente.
Tenho dito sempre que “a militância anda de braços dados com a estupidez”. E por falar nisso, hoje transformaram eleições em campeonato, partidos em clubes e militância em torcida. E esse não é um fenômeno restrito apenas ao Brasil, mas sim um desastre mundial.
As pessoas perderam a capacidade de analisar os fatos e abriram mão de formar sua própria opinião e se tornaram reféns dos “formadores de opinião” os ditos intelectuais, frequentadores de botequins nos calçadões famosos nas orlas desse Brasil. Tomam whisky, vinhos ou espumantes acompanhados de lagostas e caviar. Como descreve cirurgicamente Belchior na letra da música “Dandy” no álbum Melodrama gravado em 1987 que diz: “um grande milionário socialista. De carrão chego mais rápido a revolução”...
A hipocrisia é odor impregnado que não se aparta dos que o exalam. Perdemos a capacidade do debate e junto a desonestidade nos argumentos. Ficamos à mercê do gorfar de néscios que monopolizaram a opinião e consequentemente o debate. Nisso, a indignação acerca de algo pode ser (ou não), aceita dependendo do interesse e claro de sua origem.
O fator “lado do espectro” (girondinos e jacobinos), a Revolução Francesa aponta para essa compreensão. O que transforma o agora “debate” em mera “algazarra” de argumentos vazios. O que condena a sociedade (como a conhecemos), ao colapso começando justamente, por exemplo, por seus princípios e valores. Vivendo assim um processo reducionista que empurra o mundo ocidental e suas diretrizes à uma desconstrução proposital por parte de uma militância da qual comentei no início deste artigo: “militância transformada em torcida”.
Chegamos assim, ao momento da necessidade urgente de resgate desse debate. Respeitando opiniões (mesmo as mais estúpidas que possam parecer sob a ótica de nosso entendimento), mas que devem ser apreciadas considerando o princípio básico de sociedade que é a busca pelo bem comum.
Todos trabalhando, contribuindo para o bem de todos. Respeitando opiniões, visões e ou preferências. Pois a indignação acerca de algo não pode ser legitimada por ser pertencente a um lado, uma perspectiva apenas. A indignação deve surgir por um sentimento de todos, porque atinge a todos que pertencem querendo ou não a uma mesma sociedade.
Livros de Arichon Angelo Gomes.
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